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Botafogo da Paraíba

Um Grito de Glória

28-09-2023

Visto-me, amigos Botafoguenses, de uma emoção que retrocede há noventa e dois anos, aos idos de 1931, quando na "Parahyba" ainda eram os ânimos açoitados pelos ventos revolucionários. Estudantes secundaristas, a maioria do Lyceu Parahybano e do Colégio Pio X, cujos prédios e suas residências eram nos arredores da Praça João Pessoa, e que costumavam jogar pelada nos diversos campos ali existentes, por fim decidiram formalizar um time para disputar competições na Liga Juvenil de Desporto que estava por ser criada na Capital.

Pois bem, depois de várias reuniões noturnas em bancos das Praças João Pessoa e no Pavilhão do Chá, foi num 28 de setembro de 1931, numa segunda-feira - às 20:00 horas - que nascia o Botafogo Sport Club. Humilde, sem pretensões maiores que não fosse a de disputar o campeonato da Liga Juvenil de Desporto, surgia aquele que seria o mais legítimo representante na história esportiva do nosso Estado. Um grupo de jovens, abnegados, dedicados e esforçados, sob o comando do saudoso Beraldo de Oliveira, fundaram o Botafogo e, inconscientemente, ofertaram a sua vida à história esportiva da Paraíba e do Nordeste.

E foram eles que formaram a sua primeira Diretoria, justamente aquela que dois anos depois, em 1933, filiava o clube à antiga Liga de Barreiras, hoje cidade de Bayeux, primeiro vínculo oficial do Botafogo com o desporto paraibano, onde foi conquistar o seu primeiro título de Campeão numa competição.

De lá para cá o Botafogo só fez crescer. Enfrentou dificuldades, crises, mas a tudo superou porque ao seu comando sempre estiveram homens que se houveram com coragem, com amor e abnegação. Há uma longa e espinhosa estrada percorrida, mas durante esse trajeto, o Botafogo teve grandes comandantes, criou líderes, formou craques, projetou-se assustadoramente pelo Brasil esportivo em busca de um destino vitorioso. E há conseguido isto. Um escalonamento cronológico daqueles que comandaram o Botafogo seria enfadonho e poderia provocar esquecimentos injustos. Mas craques como Pagé, Humberto Sorrentino, Dante Grisi, Zé de Holanda, Zé Américo Filho, Arnaldo Von Shosten, Ronald Borges, Diblar, Vavá, Antonio Berto, Tita, Milton Doidão e tantos outros, não podem ser esquecidos.

Vivi, ainda menino, o tempo em que o Botafogo era alvinegro com a estrela branca. Um tempo onde os craques se confundiam, vestidos com a mesma camisa. Um meio campo que esnobava, a genialidade de Nininho, Valdecy Santana, Simplício. Tinha Dissor, Lelé, Pibo, e tinha Ferreira - que jogou ao lado do Rei do Futebol - e Chico Matemático (o maior artilheiro da história do nosso Clube). Havia um estádio chamado Olímpico, onde hoje é a Vila Olímpica Parahyba; havia um Centro de Treinamento não muito acanhado, onde hoje é o Espaço Cultural - berço da primeira sede do nosso querido Clube; havia uma mesa enorme, onde Nininho costumava ficar - na cabeceira - comendo bolacha, para depois ser massageado pelo magnético Ademir Guerra.

E Nininho dividia as bolachas com as crianças. Eu e outros meninos degustávamos o seu café da manhã. Ele, o ídolo modesto, carismático, craque e símbolo de alegria, dividia-se com as crianças. E Nininho morreu! Com ele se foi uma parte da grandeza do Botafogo. Mas um clube que busca - embora às vezes desordenadamente - ocupar o lugar de primeira grande força do futebol nacional, não podia parar. E continuou crescendo como um dos grandes do Nordeste. No outono de 1975 a estrela já havia mudado de cor. Já era vermelha graças ao dedo de Ivam Tomaz: "As cores da Paraíba vão caracterizar o Botafogo daqui", dizia Ivam. Surgia o Alvinegro da Estrela Vermelha. O Botafogo começava a ter identidade.

E o time conseguia realizar, em1980, uma façanha até então inédita pelos gramados do Brasil, representando não apenas a Paraíba mas todo o Nordeste. Fez leões fraquejarem diante da sua grandeza. Bradou galhardamente no continente do futebol, e não tremeu quando mergulhou no subterrâneo do Maracanã. Soltou um grito de gigante no ar, e fez multidões se lançarem ao seu redor. Ali estava reinando o verdadeiro Botafogo, das glórias tão vividas - e sentidas, e bem amadas. "Matador de Tri-campeões", dizia a revista Placar. Já era a geração do Almeidão, a geração de Nicássio, Magno e Zé Eduardo, talvez o melhor meio-de-campo que já tivemos. Depois vieram Chico Explosão, Marcelo Santos, Maurício Cabedelo, Geovani e outros craques. Ainda vieram Dentinho e Agnaldo, os dois maiores artilheiros do Brasil em 1983 e 1992, respectivamente.

Seu voo para o outro lado do Atlântico, em 1984, não o fez mergulhar numa odisseia perdida, ou quase perdida, como "Os caçadores da arca de Noé". Mas o fez pisar com pés de bravos, com os olhos de guerreiros e com a força dos gigantes. A Europa não se fez de órbita tão lunática, e o Botafogo muito menos de cosmonautas absortes. Foi, viu, pisou e cantou vitórias. E mesmo em sendo esta galáxia de tantos Botafogos por aí perdidos, ele não honrou apenas o seu nome de puro e simplesmente "Botafogo da Paraíba". Não! Honrou também o Botafogo que gerou Garrincha, se quando, na verdade, o confundiram com o Xará carioca. Do Oiapoque ao Chuí; dos pampas aos seringais; das províncias às metrópoles gigantes, não se ouviu falar que o Botafogo foi algo perdido no Continente Europeu. Não! Mas alguém vestido de rival ouviu o eco dos seus gritos de vitórias. Porque assim o fez.

Ao final dos anos 80 a CBD o rebaixou, por Decreto. Foi o único rebaixamento que o Clube teve. O Grupo dos 13 - no eixo Sul-Sudeste - se uniu à CBD e deixaram o nosso Clube sem Série. Mas não sucumbimos à esse golpe. Reagimos, dentro da legalidade, dentro de campo. E 25 anos depois éramos Campeões Brasileiros da Série D. Já era a geração de Genivaldo, Doda, Warley, Lenilson e de outros grandes craques. Agora são chegados os 92 anos de um velho-moço, que já viveu muito; que já sofreu muito, mas que, como diz a canção, ainda acredita na conquista de muitas glórias. Hoje é a geração de Mota, de Pedro Carrerete, de Wesley Dias, de Renatinho, de Pipico e de outros craques...

Senhores Representantes do Botafogo, dirigentes de hoje e de ontem, craques de todas as épocas, desportistas de todas as idades e de todos os tempos, eu tenho a elevada honra de saudar-vos pela passagem dos noventa dois anos de fundação do Botafogo. Uma honra que a mim se apresenta maior porque já tive a satisfação de presidir esse clube, Clube de projeção social, clube de massa, clube que é a própria consciência da Paraíba esportiva. E ao fazê-lo, em nome de meus ilustres companheiros, eu o faço na certeza de que esta homenagem é justa, pelo que o Botafogo há feito pela Paraíba, como relações públicas, como intérprete de sua coragem cívica e de sua capacidade competitiva. Ao Botafogo e aos que fazem o futebol paraibano, cabe o dever de lutar para que esta arte se mantenha. Lutar para que ele não morra. Lutar para que o Almeidão seja ainda o grande templo do futebol paraibano e provar que a Paraíba tem condições de se transformar num estandarte do futebol brasileiro. Pois, enquanto há vida pode ser visto no horizonte o verdadeiro brilho da vitória.

Botafogo da Paraíba,
Viva essa Paixão!

Texto de Raimundo Nóbrega ,Conselheiro e Sócio Benemérito do Botafogo, Ex-Presidente, Historiador do Clube, e é professor da Universidade Federal da Paraíba.

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